
A
poesia de João Cabral de Melo Neto não apela para o sentimentalismo.
Afinal, a essência da arte do escritor pernambucano está em examinar a
realidade lógica e concretamente. Esta coletânea, organizada pela
professora e escritora Regina Zilberman, reúne os principais textos
produzidos por João Cabral e funciona como uma boa introdução à obra
dele. A seleção, no entanto, privilegia escritos que denunciam a pobreza
no Nordeste, evidenciando a consciência social do autor. A compilação
integra uma coleção recém-lançada, que tem como objetivo aproximar dos
estudantes grandes nomes da Literatura brasileira.
Para você se apaixonar e querer ler os poemas, destaco o lindo e sensível poema Tecendo a Manhã.
Tecendo a Manhã.
João Cabral de Melo Neto
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
João Cabral de Melo Neto
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
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